90 mil famílias Cearenses vivem em situação extrema de pobreza |
Conforme esclareceu a assessoria de comunicação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) - pasta responsável pelo Bolsa Família e fonte dos dados citados - os aumentos nos repasses serão suficientes apenas para que as pessoas beneficiadas ultrapassem em R$ 2 a linha dos R$ 70 (por indivíduo), para que, assim, deixem oficialmente esta situação.
Por exemplo, se uma família de cinco brasileiros tem uma renda mensal de R$ 300, o que representa R$ 60 para cada, o governo federal transferirá mais R$ 60 (R$ 360 no total), fazendo com que a conta chegue a R$ 72 para cada um deles.
Carlos Manso, professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador de questões ligadas à pobreza, reconhece que a iniciativa do Planalto é válida, pois, por mais que a quantidade de dinheiro a mais no bolso dos beneficiados seja aparente pequena, uma renda um pouco maior faz "muita" diferença no cotidiano de famílias em estado de carência absoluta.
"No entanto, é preciso ter cuidado e entender que a extrema pobreza, no Brasil, está muito além da renda mensal, mas também envolve condições inadequadas de moradia, de saneamento, de coleta de lixo e de serviços públicos essenciais, como educação saúde e segurança", lista o pesquisador. Carlos Manso acrescenta ainda que os R$ 70 levados em consideração pelo governo é um valor muito baixo, inferior aos US$ 2 por dia considerados pelo Banco Mundial, que correspondem a cerca de R$ 120 por mês.
O pesquisador também alerta para que as autoridades não se acomodem com resultados como esses, uma vez que eles não significam a solução para os problemas das famílias em situação de extrema pobreza.
"Isso só vai mudar, provavelmente, na próxima geração, já que a geração de adultos extremamente pobres dificilmente vai conseguir qualificação profissional a tempo de se inserir no mercado de trabalho. Os filhos destes brasileiros é que precisarão ter um nível de qualificação profissional muito superior para que tais dificuldades sejam superadas", explica, referindo-se ao que os especialistas chamam de "inclusão produtiva".
Ainda segundo o MDS, outro programa de transferência de renda do governo federal, o recém-lançado Brasil Carinhoso, foi responsável, em 2012, por tirar 1,48 milhão de cearenses da extrema pobreza, dos quais 664 mil foram incluídos em dezembro último.
O benefício é válido apenas para famílias com filhos de zero a 15 anos que já são cadastradas no Bolsa Família. A inclusão recente aconteceu porque, antes, apenas aqueles com crianças de zero a seis anos eram atingidas pelo programa.
É importante esclarecer que os quase 240 mil cearenses citados inicialmente representam uma parcela de beneficiados que não possuem filhos com menos de 15 anos.
De acordo com o Censo Demográfico de 2010, levantado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará concentrava, naquele ano, 1,5 milhão de extremamente pobres. No entanto, ainda que a soma de todos os cearenses cadastrados nos dois programas chegue a cerca de 1,72 milhão, com dados de 2012, isto não significa que a extrema pobreza está totalmente erradicada no Estado.
Para o ministério, a diferença verificada é resultado de uma variação natural que ocorreu em dois anos, concluindo, assim, que os dados de 2010 não são mais "confiáveis", e que, certamente, a extrema pobreza ainda não foi zerada no Ceará.
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